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Comitê para promoção de Direitos humanos, igualdade étnico racial e de gênero do IFSP SRT participa do 1º. Seminário Trabalhista de Sertãozinho

  • Publicado: Terça, 14 de Maio de 2019, 08h44
  • Última atualização em Terça, 14 de Maio de 2019, 08h47
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Por Marília Guimarães Pinheiro

No dia 02 de maio, no auditório Canaoeste, foi realizado o 1º. Seminário Trabalhista de Sertãozinho, promovido pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico da Prefeitura Municipal de Sertãozinho. Três painéis discutiram, entre 18h30 e 23h00, os temas de Diversidade e Inclusão nas Empresas, Empregabilidade & Tecnologia e Impactos da Reforma Trabalhista.

No primeiro painel, sobre Diversidade e Inclusão nas Empresas – pilares da diversidade: pessoas com deficiência, etnia e raça, gênero e LGBTQI+, o médico Dr. José Carlos do Carmo, da Regional do Trabalho de São Paulo, em palestra de abertura, enfatizou a importância da diversidade para um ambiente de trabalho mais rico e criativo a fim de atender de modo mais amplo às necessidades do mercado em produtos e serviços. A mesa contou ainda com Dr. Carlos Eduardo Machado, da presidência da Comissão dos Direitos da Pessoa com deficiência da OAB, Sertãozinho, e com Jonathan Faleiros, do Sindicato dos empregados do comércio atacadista e varejista de Sertãozinho. O Comitê de direitos humanos, igualdade étnico-racial e de gênero do IFSP Sertãozinho esteve presente com minha participação, apresentei alguns pontos sobre a realidade do trabalho negro, feminino e de pessoas LGBT.

Lembrei que para falar de diversidade nas empresas é preciso falar em cultura, em preconceitos. Preconceitos são crenças, sem fundamentação, sem comprovação científica. Os preconceitos são, em geral, a motivação da discriminação que é uma atitude, uma ação, e portanto, passíveis de punição legal. Racismo, machismo, homofobia estão muito presentes em nossa cultura, consequentemente estão presentes na empresa.

Vejamos alguns fatos. Conforme levantamento do Ministério do trabalho em 2018, a maioria das vagas em serviços braçais ou que exigem pouca formação, como operador de telemarketing, vigilante e cortador de cana-de-açúcar são ocupadas pela população negra. Já nas profissões altamente qualificadas, como as de engenheiro de computação e professor medicina, a maioria é branca. Na verdade, um abismo distancia brancos e negros, desde a educação básica às oportunidades de ascensão profissional, tanto assim que, apenas lançando um olhar ao chão da fábrica e outro olhar aos escritórios de diretorias, vemos refletido este distanciamento.

Um conjunto de crenças semelhante afasta as mulheres do mesmo grupo de profissões. Dados da PNAD, 2018, dão conta que as mulheres são vistas como principais responsáveis pelas atividades domésticas e pela criação dos filhos. Elas dedicam 21,3 horas por semana com afazeres domésticos e cuidado de pessoas, enquanto que os homens 10,9 horas. O dobro do tempo, praticamente um turno de trabalho a mais.

Embora sejam maioria como estudantes tanto em nível superior como em nível médio, as mulheres ainda recebem cerca de 30% menos que os homens na mesma atividade, segundo relatório do IBGE, Estatísticas de gênero — Indicadores sociais das mulheres no Brasil, 2018. A questão de gênero permeia também a permanência de mulheres nos cursos de mais longa duração,  os que em geral, são oferecidos em tempo integral, e que podem oferecer os empregos mais bem remunerados. A mulher está mais presente em casa, nos afazeres domésticos e no cuidado com pessoas, a porcentagem de mulheres neste dia a dia é de 37%, maior do que o dos homens 26%, conforme a PNADC. O médico e escritor Dráuzio Varella, em Por um fio, testemunha a esmagadora predominância das mulheres como acompanhantes de pacientes terminais nos hospitais, o mesmo ocorre nas salas de espera de pediatras e, até mesmo, nas filas de presídios.

Entre as pessoas LGBT, essa realidade é ainda mais complexa e alarmante. Estima-se que 9% da população (cerca de 18 milhões de pessoas) pertençam a esse grupo. São pessoas que sofrem diariamente com a exclusão, com o preconceito, com a violação de seus direitos, dificuldade de acesso à educação e também ao mercado de trabalho. Muitas empresas restringem a contratação de pessoas desse grupo usando como justificativa o preconceito do outro, com a alegação do afastamento do cliente. O grupo mais vulnerável entre os LGBTs é o de pessoas TRANS, tanto homens quanto mulheres.

A presença do preconceito pode ser verificada pelo grau de violência a que um grupo está sujeito. Pessoas TRANS vivem em média 35 anos, a metade da expectativa de vida da população, de 75 anos, conforme IBGE.

Segundo o IPEA, 2017, a maioria das vítimas de mortes violentas são homens, eles representam 92% entre os cerca de 51 mil ocorridos o ano passado, praticamente uma Porto Ferreira dizimada por ano. Dentre esses, os negros foram 74,5% e os jovens 53% (entre 15 e 29 anos). E, embora as mulheres sejam minoria em mortes violentas, a violência pelo simples fato de serem mulheres chama atenção. O feminicídio foi criado para quantificar esta realidade. Terminar um relacionamento não caracteriza um risco para os homens, mas é a causa mais frequente do feminicídio.

As ações que reforçam, no dia a dia, o afastamento de negros, mulheres e LGBTs das profissões mais bem remuneradas, ou mesmo de uma ocupação no mercado de trabalho, tem por base crenças. A escravidão, que justificou por tanto tempo tratamento aviltante aos negros, o racismo, a misoginia e o machismo, e LGBTfobia precisam ser discutidas e a empresa pode contribuir muito para a mudança deste quadro.

A empresa pode promover um censo interno, pode estabelecer políticas de diversidade que busquem manter e captar pessoas pertencentes à chamadas minorias. É importante o treinamento gerencial, o fortalecimento de canais de comunicação, a divulgação de políticas de não aceitação de ações discriminatórias, enfim, implementar práticas inclusivas e representativas da comunidade local.  As políticas de diversidade são aplicadas por inúmeras empresas modernas, na Europa, Canadá e Estados Unidos.

O IFSP tem feito pesquisas nesse sentido, visando produzir um conjunto de dados que possam orientar empresários interessados nestas questões. Temos um curso superior de Tecnologia de Gestão de Recursos Humanos que promove pesquisas tanto para trabalho de conclusão de curso, quanto para iniciação científica. Nos últimos anos produzimos pesquisas como: mulher negra e mercado de trabalho em Sertãozinho, pessoas LGBT e mercado de trabalho em Sertãozinho, percepção do racismo pelas áreas de RH nas empresas em Sertãozinho, trabalho da mulher nos cargos de gestão em Sertãozinho, entre outros. Nessas pesquisas, sempre pudemos contar com a receptividade das empresas sertanezinas, estamos à disposição para contribuir com nosso trabalho.

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